Medicina Tradicional Chinesa


A MTC (Medicina Tradicional Chinesa) perde-se no tempo. Ninguém sabe ao certo quais as suas verdadeiras origens mas muitas são as histórias e os mitos, alguns com algum fundo de verdade, outros talvez nem tanto.

A MTC tem uma história comprovada de vários milhares de anos, tendo aparecido através da luta contra diversas patologias por parte do povo chinês. Devido às suas características orientais únicas, a MTC conseguiu ser a responsável por um estilo de vida saudável e cheio de prosperidade no seio da população chinesa. Essa reputação conseguiu sair além-fronteiras e espalhou-se por todo o mundo, promovendo bem-estar, saúde e longevidade à disposição de todos.



Bases filosóficas da MTC

A MTC, tal como qualquer outro sistema científico, assenta tanto numa base filosófica como num método de sistematização no que toca à forma de ver, pensar e interpretar o mundo, estando ambos, neste caso particular, intimamente ligados ao pensamento profundo e filosófico chinês da época.

Estudar e praticar MTC sem entender as bases filosóficas e o pensamento chinês da altura poderá levar a resultados erráticos ou, até, potencialmente desastrosos. É preciso entender que o pensamento chinês é em tudo diferente do pensamento ocidental, inclusive no que toca à medicina, uma vez que este último tem por base um método lógico e objectivo para o estudo da biologia humana, agentes patogénicos e diversas sintomatologias e patologias, o que se reflecte na forma como a doença, hoje em dia, é tratada no ocidente, ao passo que a MTC opta por uma abordagem completamente diferente, tendo, no entanto, óptimos resultados médico-científicos. Tal diferença deve-se ao facto de que a MTC assenta numa sociedade antiga chinesa e nas teorias do Qi (ler Chi), do Yin e Yang e dos Cinco Elementos, que eram usados para entender e explicar todos os fenómenos naturais.


Conceito de Qi

O Qi, na China antiga, representava a forma de compreensão mais simples de todos os fenómenos naturais. Os filósofos das eras mais remotas asseguravam que Qi era a substância mais básica que constituía o Universo, e tudo neste seria resultado da acção do dito Qi. Este conceito foi introduzido nas teorias médicas e tornou-se o princípio fundamental para a explicação das actividades vitais do corpo humano.

Nos dias de hoje o Qi é visto como sendo a substância mais básica que constitui o corpo humano e que mantém as suas actividades vitais mas, para esse efeito, este também precisa de extrair substâncias nutritivas do meio envolvente com vista a repor o Qi das vísceras (órgãos Zang) que é consumido, uma vez que, sem este, elas simplesmente cessarias as suas funções.

A formação de Qi é um processo complexo no qual algumas vísceras têm uma função muito importante, pois este tem três origens: Qi Inato, de origem hereditária dos pais; Qi Essencial, derivado da essência dos alimentos e água, transportado e transformado pelo baço e estômago; e Qi Puro (Claro - do ar fresco), que é inalado pelos pulmões no mundo natural. Torna-se claro que a formação de Qi não está apenas relacionada com a herança inata, nutrição adquirida e o meio envolvente, mas também intimamente ligada aos rins, baço, estômago e pulmões. Quando a função destes órgãos internos é normal, o Qi no corpo prospera, quando é anormal, as acções do Qi ficam afectadas, criando mudanças patológicas.


Teoria do Yin e Yang

Segundo as teorias chinesas antigas, o Qi não é algo que seja estático, imóvel, bem pelo contrário, o Qi está em constante movimento e mutação, e nesta visão, discerniram dois tipos de Qi: o Yang-Qi e o Yin-Qi.

Yang-Qi corresponderia ao Céu, ao Sol, ao dia, à luz, ao movimento, ao fogo, ao homem.

Yin-Qi corresponderia à Terra, à Lua, ao frio, à noite, à escuridão, à quietude, à água, à mulher.

Consequentemente, a teoria do Yin e Yang afirma que estes, tanto em unidade como em oposição, são inerentes a todas as coisas do Universo, tanto no seu surgimento como nas suas variadas mudanças e flutuações, pois tais "fenómenos" são resultado da interacção destes dois opostos, que não deixam de ser um Qi unificado: "(...) Yin e Yang são a lei do Céu e da Terra, são o princípio que tudo guia, os pais da mudança, a raiz e fonte da vida e da morte, e a casa do espírito. (...)" (em Su Wen - Nei Jing). Esta citação claramente afirma que a fase e fonte de tudo e todos os fenómenos no Universo é o Yin e Yang, mas acima de tudo, para além de explicar a matéria, fenómenos e suas interacções físicas e metafísicas, a teoria do Yin e Yang também fornece uma metodologia para observá-los e analisá-los.

Quatro características se salientam desta relação Yin e Yang:

  • Yin e Yang intertransformam-se
    Quando um acaba o outro começa, tal como as estações do ano, mas não de forma aleatória, um pode mudar para o outro mas sempre na altura certa.
  • Yin e Yang são interdependentes
    Não existem um sem o outro pois nada é totalmente Yin ou totalmente Yang, um contém a semente do outro e vice-versa. Existe uma constante transformação de um para o outro.
  • Yin e Yang são opostos
    Provavelmente a característica mais conhecida pois são o calor e o frio, dia e noite, interior e exterior, são opostos numa continuidade de energia ou matéria, mas esta oposição só ocorre de forma relativa. Por exemplo, o homem é Yang em relação à Terra mas é Yin em relação ao Céu.
  • Yin e Yang consomem-se mutuamente
    Os níveis de Yin e Yang estão constantemente em oscilação, sendo esta normalmente harmoniosa. Sempre que um está desequilibrado, o outro é afectado, Se um está em excesso, o outro diminui ou enfraquece.


Teoria dos Cinco Elementos (Movimentos)

O conceito da teoria dos Cinco Elementos diz respeito ao movimento e mudanças das cinco matérias básicas: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. A teoria teve origem numa época em que os anciãos usavam as propriedades e características das cinco substâncias para representar tudo o que era material no Universo, e usavam o inter-relacionamento entre estes para interpretar a evolução e a complexa inter-relação de tudo o que existe. Inicialmente, o termo original era "as cinco substâncias", pois eram as cinco substâncias essenciais no dia-a-dia do povo. Segundo o Shangshu: "(...) o povo depende da água e fogo para a comida e bebida, do metal e da madeira para construir abrigo, e da terra para criar vida. Os cinco são para uso do povo. (...)". Entretanto, durante a Era das Guerras (475-222 A.C.), o conceito dos Cinco Elementos ganhou um significado mais filosófico. Estes deixaram de significar as cinco substâncias e tornaram-se nos arquétipos fundamentais da matéria que constituía a essência material de tudo no Universo e a inter-relação entre estes cinco arquétipos tornou-se na explicação do movimento, da transformação e da inter-relação entre tudo o que era material.

Sendo assim, a teoria dos Cinco Elementos usa os princípios da analogia para classificar todas as coisas e fenómenos no Universo em cinco categorias em termos de características da Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. A relação e interacção entre os Cinco Elementos é a seguinte:

  • Madeira
    Associada ao crescimento, germinação e elasticidade, de natureza calmante, correspondendo ao Fígado.
  • Fogo
    Associado ao calor e de natureza ascendente, correspondendo ao Coração.
  • Terra
    Associada à transformação, retenção e recepção, correspondendo ao Baço/Pâncreas.
  • Metal
    Caracterizado como adstringente, de natureza descendente, correspondendo aos Pulmões.
  • Água
    Caracterizada como humidificante e armazenante, de natureza descendente, fria, correspondendo aos Rins.

A MTC categorizou substâncias e fenómenos da Natureza e do corpo humano em cinco grupos baseados na analogia da forma ou propriedade similar com estes cinco elementos. Por exemplo, o Fígado é Madeira porque a cólera (fúria, irritabilidade), emoção associada ao Fígado, é semelhante à madeira das árvores (com tendência a alongar-se livremente sem ser impedida). A Madeira é verde, uma cor clinicamente associada à manifestação de patologias do Fígado. Os olhos são a janela do Fígado e as lágrimas são os fluídos deste.

Na MTC, os cinco órgãos Zang são o centro desta categorização. Cinco tecidos, cinco órgãos, cinco sistemas sensoriais, emoções e "espíritos" estão conectados para criar o sistema dos Cinco Elementos. Estas características e ligações aos Cinco Elementos são usados para explicar as suas definições e associações, criando assim um sistema centrado nos cinco órgãos Zang, que enriqueceram o sistema teórico da MTC.


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